Dom Dulcênio afirma que o Papa Francisco mudou a história recente da Igreja

Em um momento de profunda emoção e fé, a comunidade diocesana de Campina Grande — em seus padres, diáconos, seminaristas, religiosos e leigos — reuniu-se ao redor de seu bispo, Dom Dulcênio Fontes de Matos, para celebrar a Santa Missa em sufrágio da alma do Sumo Pontífice, Papa Francisco, falecido na manhã desta segunda-feira, 21.

A celebração, realizada na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, na noite dessa segunda-feira, 21, foi marcada por um clima de intensa comunhão, unindo a Igreja particular de Campina Grande à Igreja de Roma, em oração pelo descanso eterno do Santo Padre.

A homilia do bispo trouxe reflexões profundas sobre a vida, a morte e o legado espiritual deixado por Jorge Mario Bergoglio, o Papa que marcou a história recente da Igreja com sua simplicidade, coragem pastoral e amor pelos pobres.

Dom Dulcênio iniciou sua pregação evocando o silêncio do Sábado Santo, comparando-o ao momento de luto vivido pela Igreja. Refletiu sobre a partida de Jorge Mario Bergoglio, destacando a vulnerabilidade da vida humana e o valor eterno da esperança cristã. “Não nascemos para o improviso”, disse, lembrando que a morte não é fim, mas encontro – “o momento do abraço com o Senhor”, como ensinava o próprio Francisco.

“O Papa Francisco, em 2019, fez uma reflexão sobre o fim que aguarda cada pessoa, a morte, apresentando-a como o momento do abraço com o Senhor. Partindo disso, queria refletir sobre a vulnerabilidade humana, teor de sua homilia naquela mesma manhã. Em sua homilia, o Papa reiterou que “tudo acabará”, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento da morte. Nenhum de nós sabe quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência de adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim: todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. A vulnerabilidade que é o eco da mortalidade”, refletiu.

A homilia conduziu os presentes por um percurso de memória e espiritualidade, relembrando palavras ditas pelo Papa em 2019, quando ele falava da morte como passagem e da vida como preparação constante. Dom Dulcênio destacou que a verdadeira grandeza de Francisco esteve em sua coragem de amar profundamente, especialmente os marginalizados.

“Seu pontificado foi marcado por um estilo pastoral mais próximo e inclusivo, com ênfase na solidariedade com os pobres e marginalizados. Papa Francisco destacou-se pela sua humildade, simplicidade e preocupação com as questões sociais. Porém, nunca! Nunca! Nunca deixou que a Igreja de Nosso Senhor parecesse a instituição ideológica de assistencialismo estéreo, mas, a verdadeira instituição de caridade do mundo. A única que dar comida com catequese. E, deveríamos, por meio disso, pedí-lo perdão por muitas vezes que confundimos sua proximidade e seu amor, com ideologias políticas sociais”, destacou.

O bispo também ressaltou o legado deixado por Francisco por meio de suas exortações e encíclicas. Obras como Evangelii GaudiumLaudato Si’Fratelli Tutti e Dilexit Nos foram citadas como expressões vivas de um pontificado centrado no amor, na justiça e na misericórdia. Francisco viveu o Evangelho com radicalidade franciscana.

“O cardeal Bergoglio não escolheu o nome Francisco a toa… se tivéssemos observado os sinais dos tempos e todas as suas ações, talvez, tínhamos descoberto que tudo aquilo que foi feito, o próprio São Francisco o havia pedido à Igreja… Ora, o Pobre de Assis queria apenas viver o Evangelho sem nada de próprio… e o que Papa Francisco quis? Viver o Evangelho sem nada para si, senão o amor ao povo. Ele extrapolou as barreiras do cristianismo e do catolicismo. Estamos não só perdendo um Papa e um Chefe de Estado, estamos perdendo um homem de Deus”.

Uma das passagens mais tocantes da homilia foi a recordação da imagem do Papa sozinho na Praça São Pedro durante a pandemia, simbolizando a dor do mundo e a fé silenciosa que sustenta a humanidade. Para o bispo, aquele momento sintetiza o espírito de Francisco: vulnerável, mas profundamente forte; solitário, mas universal em seu amor.

“Eu poderia elencar várias cenas fortes sobre nosso Santo Padre nesta noite, contudo, escolhi a cena que mais tocou os olhos e o coração do mundo: aquele velhinho subindo vagarosamente os degraus da praça São Pedro naquela noite nublada para rezar pela pandemia do Coronavírus. Pela primeira vez na história milenar da Igreja católica, o Papa rezou naquele dia, sozinho, sem auxiliares, sem destino, diante da imensa praça vazia (silenciosa e fria) de São Pedro e deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo pela pandemia do novo coronavírus que o atormentava… e clamou “Deus onipotente e misericordioso, olha a nossa dolorosa situação: conforta teus filhos e abre nossos corações à esperança, porque sentimos sua presença de Pai em nosso meio”, destacou.

Ao final da celebração, Dom Dulcênio convidou todos a entoarem juntos a Oração de São Francisco, como despedida e compromisso com o caminho trilhado pelo Papa. Agora, fica o vazio da voz que não ouviremos mais, mas permanece a melodia do exemplo que ele nos deixou. Francisco esperou a alegria da Ressurreição para partir. E partiu como viveu: levando esperança.

“Francisco, Francisco… esperaste apenas as alegrias da Ressurreição do Senhor neste ano da Esperança para partires com Ele também. E como ficamos? Com saudade! Com muita saudade! Farás falta… Obrigado por nos descrever como é ser Peregrino da Esperança. Conhecemos, verdadeiramente, um Santo Padre… homem que carregou em seus ombros o peso do mundo, mas, que foi auxiliado pela misericórdia de Deus.

Fonte: Ascom

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