Em apenas 3 anos, quase 200 pacientes são resgatados de casas terapêuticas na PB

Levantamento divulgado nesta quarta-feira, 27, pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) mostra que de 2023 até agora 164 pacientes foram resgatados durante fiscalização realizada em 16 comunidades terapêuticas paraibanas. Eles estavam sendo mantidas nesses locais contra a própria vontade, em condições inadequadas e submetidas à violência. 

O resgate foi realizado por um grupo de trabalho liderado pelo MPPB que envolveu a Secretaria de Estado da Saúde, o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/PB), os Conselhos Regionais de Medicina e de Enfermagem, de Psicologia e de Farmácia da Paraíba. 

As inspeções identificaram irregularidades graves na gestão das unidades. Uma das mais frequentes foi a ausência do registro legal para funcionamento. Na prática, a maioria dos estabelecimentos se enquadra como equipamentos de saúde, ministrando e disponibilizando medicamentos para os internos. Também havia problemas na emissão do alvará sanitário ou outras documentações, assim como dificuldades em ter acesso ao prontuário individual dos acolhidos e do regimento interno disponível no local.

Outro ponto crítico foi o conhecimento de internações involuntárias ou compulsórias, sem respaldo legal, contrariando frontalmente as normativas nacionais que regulamentam a atuação dessas instituições. O problema foi constatado em 50% das unidades visitadas pelo grupo de trabalho.

Duas unidades tinham oito adolescentes internados, o que é proibido pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Também foram encontradas pessoas idosas, mulheres, e portadores de deficiência física, com transtornos psíquicos que não eram decorrentes de álcool e drogas, como uma espécie de “depósito” de vulneráveis, situação de flagrante violação dos direitos humanos.

Em mais da metade das instituições fiscalizadas havia medicamentos vencidos, fracionados sem identificação (lote e validade), e psicotrópicos sem a devida prescrição/prontuário médico. Além de receituários em branco de medicamentos controlados, assinados e carimbados por profissional médico.  

A ação do grupo de trabalho também constatou a ausência de profissionais de saúde qualificados (médicos, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros), ficando os próprios internos, em alguns estabelecimentos, responsáveis pela guarda e distribuição dos medicamentos. E casos de maus-tratos, cárcere privado, violência física, psicológica e até sexual foram documentados, nas mesmas comunidades terapêuticas que realizavam internações involuntárias e/ou compulsórias, ou seja, metade das CTs fiscalizadas aplicava essas punições.

As consequências

Quatro comunidades terapêuticas foram interditadas pela Agência de Vigilância Sanitária, em razão de funcionarem sem alvará sanitário e/ou por exercerem suas atividades irregularmente. Como desdobramento destas fiscalizações, foram instaurados inquéritos civis públicos e ajuizadas ações civis públicas, para interdição dos estabelecimentos em razão das situações insalubres e nocivas à saúde dos internos.

Nos casos de agressão e/ou violência (física, sexual, psicológica, patrimonial), os responsáveis foram levados para serem ouvidos na central de polícia de cada município.

No âmbito criminal, a 1ª Vara Criminal de Campina Grande condenou sete pessoas de uma CT pela prática de sequestro, cárcere privado e tortura, nos anos de 2023 e 2024, contra cinco internos.

Para a promotora de Justiça Fabiana Lobo, é preciso dar continuidade às fiscalizações, que “revelaram um cenário preocupante na maioria das comunidades e centros terapêuticos inspecionados, o que pede a urgência de uma atuação contínua e rigorosa dos órgãos fiscalizadores, para garantir a proteção dos direitos e a integridade física e mental das pessoas acolhidas nessas instituições”. 

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